A experiência vale demais. Foto: José Pinto. |
Texto adaptado da Revista Placar nº 433 de 11 de agosto
de 1978 escrito por Sérgio Martins.
Ponto de Equilíbrio
Num Guarani fogoso e inexperiente, Zé Carlos, 33 anos, é
o chamado ponto de equilíbrio. Os seus pés parecem atrair as atenções da bola e
dos companheiros, é ele quem triangula as ações do meio-campo, funcionando como
um legítimo centromédio. E, quando alguém desgarra e pega a reta, abrindo um
vazio na retaguarda, é o veterano Zé que cuida de corrigir o erro. Como um
irmão mais velho.
Zé Carlos parece um artista que domina de maneira
absoluta a sua arte, depurando-a completamente e atingindo uma simplicidade de
gênio, Contra o Vasco, na partida em Campinas, por exemplo, em nenhum lance deu
mais de dois toques na bola. Mas jamais deu um só passe que pudesse ser rotulado
de burocrático, tocava curto, mas sempre para o lado certo, para o companheiro
em melhor condição de iniciar o contra-ataque. Com colocação perfeita a bola
constantemente acabava em seus pés.
No Guarani, Zé Carlos é volante, sem ser cabeça-de-área.
Um espécie raro no atual futebol brasileiro. Quase um centromédio à antiga –
vértice da maioria das triangulações feitas.
- Aqui, no Guarani, jogamos com mais passes longos e mais
rápidos que no Cruzeiro. Pra mim, tocar curtinho é mais bonito, é melhor, por
estar dentro das minhas características. Porém não posso querer jogar assim, se
não é o melhor para o time.
- Aqui no Guarani o volante não tem obrigação de ficar
fixo na frente de sua área, protegendo os zagueiros. As ordens que eu tenho são
no sentido de marcar em cima o ponta-de-lança adversário, Quer dizer se ele
jogar recuado, eu avanço, Se ele cair pelas pontas, normalmente vou junto. Mas
tudo isso quando o time dele está com a bola. Quando a bola está com o nosso
time, tenho liberdade para avançar.
No final do ano passado, quando o Guarani comprou seu
passe, não foram poucos os que criticaram a transação. Afinal, o Guarani
acabara de vender Flamarion, um menino, e colocava em seu lugar um jogador de
33 anos, em fim de carreira. Agora, ninguém mais é capaz de fazer esse tipo de
crítica.
- Ganhei passe livre do Cruzeiro, por força da lei, e não
queria continuar mais no clube, Estava lá desde 65 e achei que era hora de
mudar de ares.
O Guarani mostrou-se interessado. Conversaram e Zé Carlos
vendeu seu passe por 800 mil – um preço que seria, no mínimo, o dobro, se a
transação fosse feita de clube para clube.
Zé Carlos começou sua carreira como ponta-direita em
times de várzea de Juiz de Fora. Quando foi para o Esporte daquela cidade, o
técnico do juvenil – sargento Fonseca – deslocou-o para a meia-direita por
achar que lhe faltava velocidade para ser um bom ponteiro.
- Essa foi a grande influência que sofri na minha
carreira. Acho que se tivesse continuado a jogar na ponta não iria mesmo longe.
- Gostava de ver o Djalma Santos jogar, foi vendo ele que
aprendi alguma coisa. Era um cara que não corria atrás do ponta. Corria era
para o lugar por onde o ponta teria que passar. Quer dizer, pegava o cara na
curva, criando atalhos dentro do campo.
- Antigamente havia muita criação, o futebol atual exige
que você corra o campo todo, marque o adversário sem trégua. O futebol mudou.
Eu tenho que acompanhar a evolução para não ficar parado.
- Esses garotos novos do Guarani, cheios de entusiasmo,
estão me fazendo bem. Eu quero acompanhar isso.
Por Sérgio Martins
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