terça-feira, 12 de junho de 2018

Zé Carlos o Ponto de Equilíbrio.


A experiência vale demais. Foto: José Pinto.



Texto adaptado da Revista Placar nº 433 de 11 de agosto de 1978 escrito por Sérgio Martins.

Ponto de Equilíbrio

Num Guarani fogoso e inexperiente, Zé Carlos, 33 anos, é o chamado ponto de equilíbrio. Os seus pés parecem atrair as atenções da bola e dos companheiros, é ele quem triangula as ações do meio-campo, funcionando como um legítimo centromédio. E, quando alguém desgarra e pega a reta, abrindo um vazio na retaguarda, é o veterano Zé que cuida de corrigir o erro. Como um irmão mais velho.

Zé Carlos parece um artista que domina de maneira absoluta a sua arte, depurando-a completamente e atingindo uma simplicidade de gênio, Contra o Vasco, na partida em Campinas, por exemplo, em nenhum lance deu mais de dois toques na bola. Mas jamais deu um só passe que pudesse ser rotulado de burocrático, tocava curto, mas sempre para o lado certo, para o companheiro em melhor condição de iniciar o contra-ataque. Com colocação perfeita a bola constantemente acabava em seus pés.

No Guarani, Zé Carlos é volante, sem ser cabeça-de-área. Um espécie raro no atual futebol brasileiro. Quase um centromédio à antiga – vértice da maioria das triangulações feitas.

- Aqui, no Guarani, jogamos com mais passes longos e mais rápidos que no Cruzeiro. Pra mim, tocar curtinho é mais bonito, é melhor, por estar dentro das minhas características. Porém não posso querer jogar assim, se não é o melhor para o time.

- Aqui no Guarani o volante não tem obrigação de ficar fixo na frente de sua área, protegendo os zagueiros. As ordens que eu tenho são no sentido de marcar em cima o ponta-de-lança adversário, Quer dizer se ele jogar recuado, eu avanço, Se ele cair pelas pontas, normalmente vou junto. Mas tudo isso quando o time dele está com a bola. Quando a bola está com o nosso time, tenho liberdade para avançar.

No final do ano passado, quando o Guarani comprou seu passe, não foram poucos os que criticaram a transação. Afinal, o Guarani acabara de vender Flamarion, um menino, e colocava em seu lugar um jogador de 33 anos, em fim de carreira. Agora, ninguém mais é capaz de fazer esse tipo de crítica.

- Ganhei passe livre do Cruzeiro, por força da lei, e não queria continuar mais no clube, Estava lá desde 65 e achei que era hora de mudar de ares.

O Guarani mostrou-se interessado. Conversaram e Zé Carlos vendeu seu passe por 800 mil – um preço que seria, no mínimo, o dobro, se a transação fosse feita de clube para clube.

Zé Carlos começou sua carreira como ponta-direita em times de várzea de Juiz de Fora. Quando foi para o Esporte daquela cidade, o técnico do juvenil – sargento Fonseca – deslocou-o para a meia-direita por achar que lhe faltava velocidade para ser um bom ponteiro.

- Essa foi a grande influência que sofri na minha carreira. Acho que se tivesse continuado a jogar na ponta não iria mesmo longe.

- Gostava de ver o Djalma Santos jogar, foi vendo ele que aprendi alguma coisa. Era um cara que não corria atrás do ponta. Corria era para o lugar por onde o ponta teria que passar. Quer dizer, pegava o cara na curva, criando atalhos dentro do campo.

- Antigamente havia muita criação, o futebol atual exige que você corra o campo todo, marque o adversário sem trégua. O futebol mudou. Eu tenho que acompanhar a evolução para não ficar parado.

- Esses garotos novos do Guarani, cheios de entusiasmo, estão me fazendo bem. Eu quero acompanhar isso.

Por Sérgio Martins

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